19/06/08

Deus escolhe a mãe da criança deficiente

Este texto já me foi passado há algum tempo. Andava mais em baixo e deu-me força. Nestes últimos dias voltou à baila e como me faz sentir bem, publico-o agora aqui. Sempre me fica mais à mão e assim partilho-o para quem dele precisar.

A maior parte das mulheres hoje em dia tornam-se mães por acidentes, outras por escolhas próprias, outras por pressão social e outras tantas por hábito.

Esse ano, quase 100 mil mulheres se tornarão mães de crianças deficientes.

Você, alguma vez, já pensou como as mães dos deficientes são escolhidas? Eu já. Uma vez visualizei Deus pairando sobre a Terra, seleccionando o seu instrumento de propagação com
um grande carinho e compassivamente. Enquanto ele observava, instruía seus anjos a tomarem nota em um grande livro.

Para Beth Armstrong, um menino, anjo da guarda Mateus.

Para Marjorie Foster, uma menina, anjo da guarda Cecília.

Para Carrie Rudlegde, gêmeos, anjo da guarda, mande o Gerard, ele está acostumado com a profanidade.

Finalmente ele passa um nome para um anjo, sorri e diz:

Dê a ela uma criança deficiente.

O anjo, cheio de curiosidade pergunta:

Porquê a ela senhor? Ela é tão alegre...

Exactamente por isso. Como eu poderia dar uma criança deficiente para uma mãe que não soubesse o valor de um sorriso? Seria cruel.

Mas será que ela terá paciência?

Eu não quero que ela tenha muita paciência porque aí ela, com certeza, se afogará no mar da auto-piedade e desespero. Logo que o choque e o ressentimento passar, ela saberá como se conduzir.

Eu a estava observando hoje. Ela tem aquele forte sentimento de independência. Ela terá que ensinar a criança a viver no seu mundo e não vai ser fácil. E além do mais, Senhor, eu acho que ela nem acredita na sua existência.

Deus sorri.

Não tem importância. Eu posso dar um jeito nisso. Ela é perfeita. Ela possui o egoísmo no ponto certo.

O anjo engasgou

Egoísmo?
E isso é, por acaso, uma virtude?

Deus acenou um sim e acrescentou:

Se ela não conseguir se separar da criança de vez em quando, ela não sobreviverá. Sim, essa é uma das mulheres que eu abençoarei com uma criança menos perfeita. Ela ainda não faz idéia, mas ela será também muito invejada. Sabe, ela nunca irá admitir uma palavra não dita, ela nunca irá considerar um passo adiante uma coisa comum. Quando sua criança disser "mamã" pela primeira vez, ela pressentirá que está presenciando um milagre. Quando ela descrever uma árvore ou um pôr-do-sol para seu filho cego, ela verá como poucos já conseguiram ver a minha obra.

Eu a permitirei ver claramente coisas como ignorância, crueldade, preconceito e a ajudarei a superar tudo. Ela nunca estará sozinha. Eu estarei ao seu lado cada minuto de sua vida, porque ela está trabalhando junto comigo.

Bom, e quem o senhor está pensando em mandar como anjo da guarda?

Deus sorriu.

Dê a ela um espelho, é o suficiente.


Erma Bombeck
Tradução: Eugenia Maria

18 comentários:

Mel disse...

Oh Estrumpfina, que coisa mais linda! Vou passar já para o meu ambiente de trabalho para os "tais dias" estar à mão e avisar uma amiga, que ainda anda naquela fase de inicial tão dificil de aceitar que tal nos tocou a nós.
Um grande beijinho.
Maria Anjos

Mina disse...

Esta mensagem para as mães, tocou-me de sobremaneira, até porque Deus e os Anjos me presentearam com um filho especial,o qual eu amo incondicionalmente, e sei que esse sentimento é recíproco, embora nem sempre ele mo trasmita por palavras, sei que fui a escolhida e tenho a certeza de me ter tornado uma pessoa melhor,com a vida que Deus me deu.Só que tenho um grande senão que me angustia,o quando esta mãe escolhida por Deus partir, quem cuidará do meu "tesouro escondido", mas que eu tenho descoberto e amado conhecer a sua verdadeira essência...Quero acreditar que Deus não o vai desproteger.
Bjocas para todas as mães

Estrunfina disse...

Mina,
pensar nisso também me angustia. Vamos pensar no presente e preparar o futuro o melhor que conseguirmos.

Bjs

K disse...

Olha, desculpa lá, isso é bonito para alguns dias, mas não me digas que noutros não te apetece dizer "óh Deus, vai bugiar mais as tuas teorias e obrigadinha pelo favor, hein?"! Batam-me, que eu gosto... já agora! Força nisso, miúda! Bjs

Estrunfina disse...

Não Kya. Se eu tivesse essa atitude, estaria a bater com a cabeça nas paredes. É uma atitude derrotista e não vou por aí.

A partir do momento em que o filho é teu, só podes agradecer terem-to confiado porque só tu saberás tratá-lo como precisa e merece.

É verdade que há momentos maus, mas não imaginas como os bons momentos são potenciados.

Às vezes observo outros pais e penso ainda bem que os filhos deles são normais porque nunca teriam o apoio necessário.

Bjs

Mrs_Noris disse...

Não conhecia o texto, mas não é de hoje que acredito que Deus sabe a quem os entrega. Oh se sabe!
Mina, as mães não morrem... ;)
Um beijinho.

K disse...

Pois não, Andreia, não teria... mas se é isso que é preciso para ter filhos sem problemas, então deixa-me ser assim, "diminuída".

Anónimo disse...

Um texto lindo, sem dúvida. E acredito piamente nisso. Deus só nos dá o peso que podemos suportar. Além disso, nos momentos de desespero não perguntámos "Porquê a nós?" mas sim "Porquê a eles?". Porque, na verdade, o possível sofrimento deles é o que mais nos dói. Como é lógico não há alegria nenhuma em ter um filho deficiente (há casos mesmo muito mais dramáticos do que os nossos), mas o amor acaba sempre por sobrepor-se à revolta. No percurso temos duas saídas: Ou vivemos frustradas eternamente a maldizer a sorte ou concentramo-nos em ser felizes com o que temos. Isto encerra uma grande coragem. Isa

Filipa disse...

Acredito que a atitude certa é a que este texto descreve.
Acredite-se ou não em Deus, pois cada um vai buscar as suas forças onde pode.
Levantar a cabeça e arregaçar as mangas...só assim é possivel fazer a diferença. E é esta diferença que é essencial para os nossos filhos!

Beijinhos,
Filipa.

Anónimo disse...

Kya, desculpe a intromissão, mas não deixei de me sentir perturbada com este seu último comentário. Se o primeiro foi, de certa forma, uma curiosidade legítima, embora, felizmente, nitidamente de quem nunca teve dentro do problema, o segundo fez-me alguma confusão. Até pensei que tinha interpretado mal, sinceramente. Pelo que escreve, dá a sensação que as mães de filhos diferentes tiveram escolha. Não tiveram. E não há condições ou falta delas para se ser mãe de um filho diferente. Acontece e pronto. Sabe o que lhe digo. Pela sua resposta, acabou por confirmar-se a plenitude deste texto. Deus sabe mesmo a quem entregar estas crianças. Imagino como seriam infelizes nas mãos de algumas mães. Se a interpretei, peço-lhe desculpa, porque, de repente, senti até algum "vinagre" na forma como respondeu à Estrumpfina. Como se preferisse vê-la a sentir-se miserável do que a sentir-se bem por poder ajudar a Cathy a viver neste mundo de insensíveis. Isa

Anónimo disse...

"esteve" denttro do problema, não "teve". Isa

Mrs_Noris disse...

Subscrevo na íntegra o comentário da Isa. Também fiquei com a sensação que alguém tinha enfiado a carapuça depois de ter lido o reparo da Andreia.

Estrunfina disse...

Bom... vamos lá refrear os ânimos.

Evidentemente que a Kya não era uma das mães a quem me estava a referir e ela sabe-o de certeza. E mal vai que eu pensasse que todas as mães de filhos sem problemas sejam "diminuídas".

O comentário foi amargo e escusado mas não tem o alcance da maldade.

Anónimo disse...

Ninguém está zangada, Estrumpfina. Não há ânimos a acalmar. Como não percebi, perguntei. Como não gostei, fui sincera. Também percebi perfeitamente que o teu txt e resposta estava bem longe de um ataque pessoal, daí o meu espanto pela reacção. Como se as mães de meninos diferentes tivessem escolha! E reagi porque nem umas mães são melhores, nem as outras piores, como é lógico. Umas com mais facilidades outras menos, todas andam a tentar ser felizes. E refrear ânimos é para quem gosta de "confusão" o que não é, seguramente, o caso. Mas, obviamente, se a liberdade de expressão, educada e sincera, não tiver lugar aqui e a ideia seja fazer o mínimo atrito possível, é só dizeres, Estrumpfina. Longe de mim vir perturbar a paz do teu canto. Isa

K disse...

Peço desculpa, não me apercebi sequer que houvesse aqui alguma confusão por causa das mensagens que troquei com a Andreia. O que ela me disse a mim tomei como ataque pessoal, sim, no entanto não fiquei zangada com ela, como ela saberá. Ela sabe coisas da minha vida privada que senti serem-me atiradas, pois realmente não teria quaisquer apoios se um filho meu tivesse problemas. Por infelicidade (ou pelo que Deus me deu? recuso... lamento!), nem tenho família, nem pais para os meus filhos. Sou, portanto, um ser abjecto da sociedade que não teve o "privilégio" de ter um filho deficiente, pela lógica aqui apresentada, pois não sou suficientemente "boa". Não serei, realmente. Acreditar nesse Deus, recuso, porque então diria, como coloquei no meu blog e que foi o motivo, presumo, de a Andreia tentar retaliar afastando-se do grupo que criei, foi que então devemos agradecer pela fome, caso contrário não daríamos valor à comida; agradecer os maus tratos, caso contrário não nos sentiríamos felizes com dias sem eventos; sentir-nos abençoados com a pobreza, caso contrário não saberíamos como é bom vestir um casaco quentinho quando está frio... Desculpem, quando comentei não pretendia ofender a perspectiva ou moral de ninguém, mas PARA MIM essa forma de encarar as coisas é que é derrotista. Entendo o que pretendem dizer, a forma de aceitação, é uma forma como outra qualquer de levantar a cabeça e ir à luta e admiro-vos por isso (lá está, não sei se teria forças - ou talvez tivesse, não sei, também pensei que não sobrevivia ao último embate da minha vida e aqui estou, por agora). Mas não invocaria o nome ou a vontade de Deus para estas coisas... eu, como mãe, nunca desejaria isso a um filho meu, como tal rejeito a ideia de Deus inflingir intencionalmente sofrimento a pais e filhos deficientes ou menos "normais". Como já dissera à Andreia, acredito, antes, que as coisas acontecem por motivos imprevistos e desconhecidos e a melhor forma de o ultrapassar, na minha perspectiva, será vivendo um dia de cada vez, sem pena de nós próprios, sem EXPECTATIVAS, pois é aí que reside a fonte das nossas ansiedades e desilusões (falo por experiência própria e por defeito próprio). Também não volto cá, Andreia, podes ficar descansada. Pelos vistos, não só uma opinião respeitosamente diferente é incómoda como ainda rende retaliações. Não espero isso dos meus amigos, antes pelo contrário. Tudo de bom para ti e para os teus amores, oxalá Deus te dê forças para os conseguires ajudar o melhor possível e que a linda Cathy venha a ser o mais "normal" e autónoma possível. Tenho a certeza que ainda vai dar-te muitas alegrias. Adeus.

Anónimo disse...

Kya, percebo perfeitamente a perspectiva de não perceberes a mão de Deus nestas coisas. Agora percebo. Não é fácil não. Não é sempre assim. Mas é a fé, na Natureza, nas coisas, nas pessoas, que nos permite suportar ter um filho diferente e ainda conseguir ser feliz com isso. Não é um agradecimento dizer que fomos escolhidas. É uma forma de embelezar a perspectiva. Porque,lá está, temos de encarar tudo pelo melhor prisma. Se estivesses do lado de dentro- e ainda bem que não estás-perceberias. Pensamos muitas vezes nisto. O que tenho eu que possa ajudar esta criança em específico? A resposta a esta pergunta sossega-nos, dá-nos forças. Talvez ela nos esteja destinada por esta ou aquela razão. E vice- versa. Se é verdade ou mentira? Nem tu sabes, nem eu. Talvez o saibamos um dia. Não importa. Estes filhos dão-nos imensas preocupações, mas também a capacidade de vibrar com as pequenas alegrias e conquistas. É pouco? Às vezes basta-nos para sermos felizes. E o engraçado de tudo é que não invejamos nenhum outro pai, nem queremos nenhum outro filho, por mais perfeito (nem ninguém nos inveja a nós, disso não há a mais pequena dúvida). Aceitamos o que temos. Só assim é possível continuarmos com um sorriso. Isa

Anónimo disse...

Kya,

És uma pessoa linda por dentro, mas tens-te deixado amargurar demasiado pela vida, que sabemos não te tem sido fácil.

Com Deus ou sem Ele, mãe é mãe, e nem sempre é fácil ser-se mãe, porque a dificuldade de se criar um filho não tem só a ver com as suas características. Um filho "saudável" e dito "normal" pode dar mais problemas e dar uma vivência bem mais complicada do que qualquer outro.

Este texto dirige-se a mães específicas, como consolo, como outros textos existem para outras mães, com os seus próprios problemas, porque ser mãe é sempre um desafio, seja em que circunstância for.

Eu admiro muito a Andreia porque tenho acompanhado a evolução da Cathy e todo o amor envolvido neste processo.

Admiro-te muito a ti tambem, espero que não te vás abaixo com tanta amargura. Podes-me insultar, e dizer o que quiseres, que mesmo assim podes sempre contar com a minha amizade.

Bjs

Rute

AnaBond disse...

ia dizer que é um texto lindo, mesmo não acreditando em deus...

beijo grande