16/07/08

Asperger na 1ª pessoa

Isto passou-se já nas férias, por isso não escrevi logo, mas como tenho medo que a cabeça me pregue partidas, aqui vai.

Na última sessão do projecto da APPDA Lx da Escola de Pais, tivémos a presença de um rapaz com SA. Foi uma experiência fantástica, muito enriquecedora e não consigo explicar a vontade que eu tinha de o abraçar, mesmo sem ter nada para lhe dizer.

O início fez-me logo sorrir, a Drª Isabel fez um género de introdução ao discurso dele e quando o chamou disse "Pedro agora pode dizer de sua justiça". Ele faz um ar incrédulo "Digo o quê? Que justiça?". As tais frases em sentido figurado que são tão difíceis de compreender pelos autistas.

Mas ele falou, e falou bem. Só muito recentemente é que lhe foi diagnosticado o SA. A infância não foi fácil, sentiu muito a indiferença por parte dos colegas que não o compreendiam e gozavam. Pode-se dizer que andava na escola por andar. Ia passar para a 3ª classe sem saber ler e escrever quando a mãe fez finca pé e conseguiu que ele voltasse para a 1ª. Aqui vem o surpreendente: em 2 semanas aprendeu a ler e a escrever. Como pode isto ser possível é o que eu pergunto e acho que a resposta só pode ser que aquela professora acreditou nele. Acabou por prosseguir sempre nos estudos, optou depois por cursos técnico-profissionais embora não tenha ido logo para os que teria mais vocação. Está empregado, é autónomo e aguarda que abra uma vaga no curso que ele quer.

Uma pergunta que fizémos era se em criança ele sentia a necessidade de conviver com os outros meninos e a resposta foi afirmativa. O problema é que ele não sabia como.

Ele olha para as crianças autistas e diz, eu já fui assim, sei muito bem o que eles sentem.

Ao contrapormos que ele é Asperger e por isso um pouco diferente que aqueles meninos que dificilmente conseguirão falar em público como ele está a fazer, ele responde que isto é agora, há bem pouco tempo ele não nos teria conseguido enfrentar.

No fundo, acho que estávamos todos a olhar para ele, na esperança que dali a 20 anos os nossos meninos estivessem como ele. Gostei e deu-me bastante esperança, temos de viver pensando positivo e guiar-nos pelas boas experiências.

5 comentários:

Mrs_Noris disse...

Olá Estrumpfina,
Acredito que existam mais casos de sucesso como este. Possivelmente alguns deles nem chegam a ser diagnosticados. Normalmente são pessoas caladas que apenas passam cá para fora uma imagem de extrema timidez ou pacatez, mas que no fundo têm muitas mais limitações. Ao longo da vida vão-se apercebendo delas e arranjam formas de as ultrapassar ou moderar. Um beijinho.

AnaBond disse...

é sempre bom ter esses exemplos...

beijo grande

Mel disse...

Querida Estrumpfina,
Nem imagina como hoje foi importante para mim ler este seu relato da experiência de vida daquele jovem.É de facto um enorme balão de esperança para os nossos filhos. Para mim, como disse, hoje teve uma importância acrescida, já que estou naqueles dias menos optimistas (deu-me para fazer balanços de vida, deve ser por ontem ter feito 40 anos e lá vem a nostalgia pelo que queriamos e projectamos e o que de facto aconteceu. Mas, com este seu post, já me sinto novamente em "up", já que de facto, o que mais me preocupa neste momento, é o futuro dos meus filhos, mas em especial do meu pequenito com PEA).
Adorei os post anteriores e as fotografias, tem uns filhos lindos!
Obrigada e um beijinho.
Maria Anjos

Estrunfina disse...

Maria Anjos,

Estes momentos de reflexão também são necessários, mas não podemos alongá-los em demasia.

Pensamento positivo é o que se precisa e muitos parabéns. A ternura dos quarenta ai, ai... :D

Anónimo disse...

Cara Estrumpfina,
Deve ter sido óptimo conhecer o Pedro que ontem apareceu na reportagem.Eu tb gostaria de conhecer alguns aspies que tenham tido uma evolução positiva e essencialmente perceber se o seu próprio carácter e vontade,a partir de uma certa idade,claro,contribuíram ou não para essa aprendizagem e evolução.
Enfim, talvez um dia consiga tirar esta dúvida...
Um beijo!
mariamartin