30/03/09

Um Domingo diferente

Ontem foi um dia engraçado.

Aproveitei a sesta do Tiago (e do pai) para ir dar uma voltinha com a Cathy.

Há um parque novo perto de casa e achei que ela ia gostar. Quando reparou que o rumo do carro era estranho, ligou a sirene e não queria sair do carro nem por nada. Como as minhas promessas que ia gostar não estavam a resultar tive de fazer voz grossa e lá foi ela de beicinho.

Mas o beicinho só durou 1 minuto até ela ver o brinquedo que lá estava e ficou feliz da vida.

A Cathy está muito destemida, já consegue andar nas passadeiras movediças e aventura-se muito mais. Para algumas coisas ainda quer sentir que estamos por perto, mas sozinha também seria capaz de o fazer.

Depois do parque, eu tinha de ir a casa de uma amiga que também tem um filho autista. Caminho novo, nova sirene. Rejeita à partida o que não conhece. Mas talvez porque também lá mora um autista, embora bem mais velho, ela sentiu grande afinidade pelos brinquedos e ficou uma meia hora entretida com tanta novidade.

Depois do lanche tínhamos uma amiga nova para conhecer. Enfrentámos tamanha ventania no parque que o encontro teve de ser num espaço mais abrigado.

A Catarina gostou muito do brinquedo que lhe deram (foi o último em que mexeu antes de ir para a cama). O Tiago gostou sobretudo da Raquel ;)

Enfim. Cheguei a casa de rastos mas foi um dia muito bem passado.

Relações fraternas

As relações fraternas nem sempre são fáceis e têm de ser bem geridas pelos pais, que mesmo inadvertidamente podem ser os responsáveis pelo relacionamento difícil entre irmãos.

Eu tento ser neutra. A Cathy não tem de ser tratada de forma diferente por ser autista (ela sabe distinguir bem o certo e o errado) e o Tiago não tem que acarretar o peso de ter uma irmã autista.

Para já, acho que o relacionamento deles é muito bom. O Tiago chateia mais quando a mana está a fazer uma actividade com alguma sequência: destrói, rouba uma peça, etc. e ela retalia, como deve ser pois claro. Ralho com ele porque está a ser mau e a ela lembro-lhe que não pode bater.

A parte que eu gosto de ver (como ontem) é que a Cathy não sai de um sítio se o irmão continuar lá. Tem de o levar com ela. Ontem ela estava num Shopping e queria ir para o outro piso. Assim que eu disse para irmos para as escadas foi buscar o mano quase de arrastão :D

Gostei destes textos:

Relações fraternas de irmãos de pessoas com deficiência - Parte I

Relações fraternas de irmãos de pessoas com deficiência - Parte II

24/03/09

Desencaixou-se - Parte 2

Dormiu bem até cerca da 1 da manhã e acordou com dores.

Foi então para a nossa cama, ora dormia ora chorava e eu estive quase para o levar às urgências mas o João lá me convenceu a deixá-lo dormir.

Ele lá adormeceu, eu nem por isso. Já mais de manhãzinha ele mexeu os deditos da mão dorida e eu fiquei feliz, mas continuava a não largar o braço dorido e se lhe apertava um pouco a mão voltava a chorar com dores.

Voltámos às urgências. À 2ª feira o cenário é bem pior, com um tempo de espera horroroso. Ficámos piores que estragados porque tendo lá estado ontem, não havia justificação para termos de passar novamente pela triagem. Enfim... foi uma espera de cerca de 3 horas, com o Tiago ao colo e sem me poder mexer porque ele uivava ao mínimo movimento.

Quando finalmente chegámos ao médico da urgência de pediatria, o nosso menino mostrou o seu melhor. Berrou com tanta força que fomos escoltados directamente para o ortopedista.

Entrei no consultório, expliquei a situação e o Dr. com muita calma diz-me que o que o Tiago tem é sono.

Whati?

- Tenha calma Mãe. Vá lá para fora e volte daqui a 10 minutos.

Assim fiz e voltei passados 10 minutos, novamente com o Tiago a chorar porque eu me estava a mexer.

- Vá lá Tiago - diz o médico - mostra-me o braço
- NÃO!!! LARGA-ME!

Com insistência ele foi-lhe pedindo que agarrasse um objecto e o Tiago recusava-se sempre até que "esqueceu-se" e mexeu o braço.

- Está a ver Mãe? Ele está é farto de hospital. Leve-o para casa e deixe-o descansar...

...

Imaginam a minha cara de cú?

É que bastou sair do gabinete do ortopedista para o menino Tiago voltar a andar pelo pé dele e a falar normalmente.

Assim que chegou a casa começou a correr feito doido, dali a minutos caiu, meteu as mãos no chão e levantou-se logo a seguir.

Se por algum motivo o contrariávamos, protegia novamente a mão que tinha magoado e fazia uma cara muito condoída.

À noite ainda recuperou o lenço que a madrinha tinha sugerido e andou com o braço ao peito.

Temos actor!

Desencaixou-se - Parte 1

No Domingo, a brincadeira de andar à roda preso pelas mãos deu para o torto.

Assim que o pai o soltou e o vi a chorar percebi que houve asneira. O Tiago está sempre a cair e a magoar-se, mas o choro passa logo com um beijinho e desta vez não foi assim.

Como o braço não inchou, demos o benefício da dúvida. Ele estava com sono, deixámos que dormisse a sesta podia ser que fosse só dorido.

Não dormiu muito porque eu não estava tranquila. Com ele ferrado toquei-lhe na mão que ele não deixava ninguém ver e foi logo um uivo de dor.

Lá fomos com o Tiago para as urgências.

Mal expliquei ao Dr. como é que as coisas se tinham passado ele viu logo o que era.

Realmente não havia nada partido. O braço estava é deslocado. Com ele sempre aos gritos na consulta nem consegui apanhar o termo técnico, mas ouvi bem a parte em que o médico diz que dá umas dores realmente horríveis.

Na ortopedia fizeram as manobras para voltar ao sítio, até a mim doeu. Sá à segunda tentativa é que foi ao sítio.

Voltámos para casa, com ele ainda queixoso e com a indicação de voltar se dali a 3/4 horas ele ainda tivesse com dores.

Em casa foi apaparicado com papinha na cama e mimos dos papás e padrinhos. Tentámos distraí-lo para mexer a mão mas ele esteve sempre com a atitude protectora de por a mão boa por cima da dorida.

A madrinha-galinha ainda o tentou convencer a por uma fita larga no pescoço para pousar o braço mas ele nem deixou chegar perto.

Adormeceu e nós fizemos figas.

17/03/09

5 Anos



A minha princesa fez ontem 5 anos.

Apaixonou-se pelo estojo de desenho que os tios deram e quis logo pintar. Também gostou de uma mini-cozinha cheia de utensílios que foi imediatamente explorar.

Mas senti-a um pouco perdida. Talvez tenha sido apenas sensação minha. A noite pareceu-me passar num instante e se calhar para ela também foi muita pessoa, muita agitação em pouco tempo. Nem lhe demos a nossa prenda porque achámos que ela já não ia conseguir dar-lhe a devida atenção...

Estes 5 anos passaram num instante e é o facto de o tempo correr desta forma que por vezes me deixa com medo de não o aproveitar como devia.

12/03/09

Sinto-me um pouco vazia para escrever. Sei que até têm acontecido coisas dignas de registo mas quando chego aqui, encontro uma cabeça oca...

Esqueço-me de tudo, chego a ficar com medo. Na 3ª feira por pouco que não deixei a Cathy plantada na APPDA à minha espera. Se o pai não telefona a dizer a que horas a tinha deixado, ia directa para casa. Tenho a esperança de que me lembraria a meio do caminho...

Um dia destes, esqueci-me de a prender com o cinto de segurança, fiquei para morrer. E mais vale não continuar porque senão alguém que saiba onde moro ainda me vai buscar para por num hospício.

Mas na verdade está tudo bem, tirando a falta de descanso.

O Tiaguito está um amor e a Catarina numa espécie de "toca e foge" parece estar mais comunicativa.

Continua a surpreender-me com as coisas que ela desenha se lhe pedirmos. Na APPDA desenhou num papel com uma casa impressa: os elementos que faltavam à casa, uma nuvem, o sol, um menino, um cão, uma árvore, uma flor e um carro. Depois disso, eu e a terapeuta estavamos a falar e por iniciativa dela desenhou uma mesa e disse "mesa".

O tempo passa, os 5 anos estão à porta. (suspiro)

02/03/09

Apoio

Em resposta a um pedido meu, e depois de muito tempo de espera, a escola da Cathy arranjou finalmente uma pessoa para dar apoio mais directo à Cathy, todos os dias entre as 10 h e ao 18 h.

Os resultados logo se verão, para já fica a sensação (muito boa) de que não podemos lamentar-nos a terceiros e não fazer nada para resolver os problemas.

No final de Setembro apercebi-me que realmente havia falta de pessoal e se era mau para os meninos em geral, era ainda pior para a Cathy. Escrevi uma carta à Direcção, expondo o caso concreto da Cathy, que se mostrou sensibilizada e prontamente estabeleceu um protocolo com o centro de emprego. Se a colocação de uma pessoa demorou tanto tempo não foi de modo algum por culpa da escola, a educadora-responsável foi incansável na procura.

Hoje foi portanto o primeiro dia da Sónia. Passei a manhã a morder as mãos para me conter. Telefonei depois da hora de almoço.

Então a menina Cathy já se apercebeu que tem alguém só para ela. Por coincidência hoje foi o dia de ser ela a por as mesas e a educadora quando se apercebeu já tinha a Sónia a fazer esse trabalho. Aaaalto! Então, mas a Cathy sabe por a mesa! Pois sabe, mas fez-se de parva e como a Sónia se chegou à frente aproveitou. É matreira ou não é?